quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Nany e eu

Pessoas cruzam nossa vida não se sabe por que. Algumas se vão, outras ficam, ainda que fisicamente distantes. É o caso da multiartista Nany People, que conheci atuando como garçom, no tradicional Café Piu Piu, no Bixiga.

Sempre alegre e alto astral, convidou minha amiga Silvia para vê-la estrelar peças infantis e o Auto da Compadecida, sempre como protagonista (neste último foi João Grilo, a consciência meio sem juízo de Chicó) da companhia do Teatro Paiol. Acompanhei minha amiga e aplaudi de pé o ator que não deixava por menos no desempenho de seus papéis.

Numa sexta-feira 13 de agosto, no mesmo Piu Piu, aconteceu o lançamento de meu livro Numerologia Fácil. Aproveitamos para promover um evento a fantasia; Nany compareceu, pela primeira vez, travestida numa espécie de Mortícia Adams e, na porta do estabelecimento, entregava comandas repetindo com voz gravíssima: "o cartããoooo!!!". Depois disso, nas sextas performáticas do bar, candidatou-se a apresentações dublando Madona, no melhor estilo "material girl". Um sucesso!

Dali, foi assumindo cada vez mais a personagem drag queen, fazendo shows aqui e ali, dando vida e voz (e que voz, diga-se de passagem!) a Nany People, que ganhou espaço na televisão como repórter, apresentadora e comediante. O garçom que conheci foi tragado pela força de Nany, incorporando totalmente o personagem, atualmente na fase das stand-up comedies.

Lembro de um dia em que trabalhava a pauta "vida dupla", sobre pessoas que têm profissões díspares e que se saem bem em ambos os papeis. Tinha a advogada tributarista que era cantora da noite, o bancário que clonava Renato Russo com perfeição em banda cover e o garçom que à noite era Nany. Quando entrevistada, suas respostas me surpreenderam pela lucidez e maturidade. Autodefiniu-se assim: "À noite, Nany é a estrela; de dia, sou o empresário dela, saio pra comprar figurino na 25 de março de jeans, tênis e camiseta, como um cara comum."

Outra fala bacana, numa metáfora inteligente: "A vida é uma festa; quando a gente chega, já está rolando, a gente vai embora e ela continua... No começo, a gente não sabe como se comportar: as bandejas vão passando e a gente pega de tudo: uísque, salgadinho, água e brigadeiro. Com o tempo, a gente aprende a fazer escolhas e, se estiver com fome, prefere a coxinha ao brigadeiro..." A opção total por Nany era assim justificada: "Nany People me proporcionou em meses o que não consegui como ator em anos."

No lançamento de meu livro Mulher de Verdade fiz questão de convidá-la e ela fez questão de vir. Rendo-lhe homenagens, pois acho que toda drag que se preza é o superlativo da mulher: maquiadésima, de saltos altíssimos, bacanérrima e originalíssima. Então, viva Nany People!

Quando a vi no reality show A Fazenda, fiquei pensando que diabos uma criatura inteligente e sensível fazia ali, se expondo daquela maneira. Depois, coloquei-me no seu lugar e pensei que não deve ser fácil para uma drag queen de meia idade traçar um futuro confortável - fala sério, acho que não é fácil nem para homem ou mulher de meia idade autônomo neste país! Agora ela está na berlinda e torço para que realize os objetivos que traçou quando se enfiou nessa confusão. Sorte, querida Nany! Estou na maior torcida por você, por seu sucesso e sua felicidade! Esta é minha modesta contribuição para que seu sonho se realize!

Posted via email from regin@ @zevedo: tudo em 1

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