Em tempos de culto à tecnologia, ante à iminente invasão dos e-books, que deve acontecer em curtíssimo espaço de tempo no Brasil e no mundo, pensar num livro artesanal, de edição única, parece algo paradoxal. Mas é assim, elevado à condição de obra de arte, que se apresenta o chamado "livro-objeto", "obra-livro" ou simplesmente "livro de artista".
"As possibilidades formais que se entreabrem a partir da investigação do livro como objeto poético desenham um arco extenso de experimentações, congregando o conhecimento artesanal aos processos industriais, potencializando a mixagem de várias linguagens e modalidades de registros visuais e literários, multiplicando a descoberta de estruturas narrativas dadas pelos entrelaçamentos inusitados entre as palavras e a imagem", afirma Derdyck. Pensamento que complementa a afirmação de Michel Foucault quando afirma que "sobre a página de um livro ilustrado, não se tem o hábito de prestar atenção a esse pequeno espaço em branco que corre por cima das palavras e por cima dos desenhos, que lhes serve de fronteira comum para incessantes passagens."
Ocupar esse espaço de maneira original foi o desafio encarado por 13 artistas que apresentam suas obras singulares até final de setembro, na mostra Sobre Livros abrigada na Casa Contemporânea.
Logo na entrada, o Castelo de Ó, de Celia Saito, apresenta-se como um explosivo pop-up composto por cartas de baralho ilustradas com fotos de práticas sadomasoquistas, saltando de um livro iluminado, que serve de base para esse imenso redemoinho de desejos interditos. Adentrando um pouco mais, a História do Futuro de Felippe Moraes mergulha o espectador num ambiente repleto de páginas de livros penduradas, quase a sufocá-lo em meio a tanta informação.
A Caixa Aberta de Silvia m dispõe imagens que despencam da prateleira e se estendem até o chão; a mesma sala abriga a performance de Felipe Bittencourt, que remete à pureza do universo infantil; e as delicadas miniaturas de Fabíola Notari, pequenos mimos de escrita e colagem.
O outro ambiente acolhe a obra de Rafaela Jemmene, uma inusitada aplicação de grafite sobre papel preto, com sutis efeitos sob a luz; e os painéis Night Shift, de Renato Pera, bonita experiência com fotos em impressão digital. Gustavo Ferro reuniu numa antiga maleta 007, relíquia do avô, seus pequenos cadernos cheios de inscrições, numa curiosa composição. Já Renata Cruz acomodou graciosas obras-livro numa espécie de relicário que cria o ambiente ideal para acomodar suas pequenas preciosidades.
Ao longo do corredor da entrada, Adriana Affortunati colecionou frases de diversos pensadores - artistas, escritores - sobre o livro, estrela maior dessa exposição (incluindo as citadas neste post). Uma verdadeira viagem, que deve ser feita com tempo e olhar atento, para não se perder nenhum detalhe e inserir-se na discussão Sobre Livros com ideias renovadas e a alma repleta de mais beleza e poesia.
Serviço: Exposição Sobre Livros na Casa Contemporânea - Rua Capitão Macedo, 370 (próximo à estação Vila Mariana do Metrô). Fones: 55 11 2337-3015 / 8354-4476 / 9107-1485. De segunda a sexta, das 14 às 20h; aos sábados, das 11 às 17h. Entrada franca. Até 25/9. Na mostra: Adriana Affortunati, Celia Saito, Fabiola Notari, Fabio Padilha, Felipe Bittencourt, Felippe Moraes, Fernanda Alexandre, Gilda Morassutti, Gustavo Ferro, Rafaela Jemmene, Renata Cruz, Renato Pera, Silvia m
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